A COVARDIA DO SILÊNCIO
A COVARDIA DO SILÊNCIO
Cel QEMA
Eduardo Henrique de Souza Martins Alves[i]
Em 27 de novembro agora terão passados
85 anos de um fato histórico, dos mais significativos para o Exército Brasileiro (EB): A
INTENTONA COMUNISTA DE 1935.
Procurando
uma referência desse acontecimento, no site oficial do EB, não encontramos qualquer
alusão sobre o fato, nem mesmo uma citação cronológica.
Não há explicação
plausível e razoável para àqueles que deveriam preservar nossa história estejam
sendo negligentes. Fatos como esse, como também a Contra Revolução de março de
1964, foram varridos para debaixo do “tapete institucional”.
Desde o início
dos governos de ideologia comunista, no Brasil, particularmente na primeira década
deste século, a subserviência covarde aos extremistas de esquerda tem demonstrado
um posicionamento inequivocamente medroso, vil e perverso para com as novas
gerações, que precisam de exemplos morais, patrióticos que exaltem os feitos da
Força Terrestre.
É esse
conjunto cronológico de uma historiografia militar que irá dar o caminho, a bússola
moral para nossos jovens militares. Negar
deliberadamente a eles esse conhecimento é permitir que o nefasto
“patrulhamento ideológico” permeie novamente o seio da Instituição Exército
Brasileiro, o que já está ocorrendo!
Resolvemos
então escrever algumas linhas sobre o fato. Primeiro porque somos de uma
geração de homens comprometidos com o Brasil, que protegem a família e que nunca
se importaram com o “narcisismo profissional” que existe no dito estamento
superior do EB.
Em segundo
lugar nossa Turma de Formação denomina-se “31 DE MARÇO”, designação escolhida por
todos os aspirantes de 1976, da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).
E, também,
porque, no auge da nossa carreira, fomos nomeados para comandar o 3º Batalhão
de Infantaria (3º BI), Regimento Ararigbóia, em São Gonçalo, RJ, oriundo do 3º
Regimento de Infantaria (3ºRI), sediado na Praia Vermelha, palco dos
lamentáveis acontecimentos, no Rio de Janeiro.
A Unidade
Militar foi prejudicada na sua história, em virtude da célula comunista, que nela
se infiltrou, além de perpetrar o levante, executou de forma bárbara e traiçoeira
companheiros de farda. Em 1935 o 3º RI foi extinto por rebeldia e sua sede
transferida para a cidade de São Gonçalo, RJ, com outra denominação. No entanto,
quatro anos após a Intentona, o próprio Presidente Getúlio Vargas entendendo que
a Organização Militar (OM) não havia se revoltado, mas apenas parte dela,
resolveu anular o ato e restituir a antiga denominação de 3º RI.
A INTENTONA COMUNISTA (27 DE NOVEMBRO DE 1935)
Recordemos então o fato histórico
que até hoje enodoa profundamente o seio da nossa Força Terrestre. A covardia
dos acontecimentos pretéritos, no longínquo 1935, deve nos causar vergonha e
repulsa todas as vezes que dele lembrarmos.
Tempo e
História são essenciais para a humanidade construir civilizações. Ninguém pode
prescindir do passado. Mas olhar para trás exige entender os fatos pretéritos como
oportunidade de preservar a memória e evoluir as ideias – forma eficaz de se enfrentar
as imprecisas, difíceis e novas conjunturas" (Ordem do
Dia de
27 de
Novembro de 1999, publicada no
NE n°
9.626).
Nesse
episódio de triste lembrança, militares, colocados a serviço de uma ideologia espúria,
que o tempo revelaria inviável, não hesitaram em atentar contra a vida dos
próprios companheiros de farda.
A
Ordem do Dia de 27 de novembro de 1995, sessenta anos transcorridos dos nefastos
acontecimentos, assim definiu aquele dia "A intriga e a deslealdade
cruzaram os portões dos quartéis. Homens que envergavam o mesmo uniforme e que
a cada manhã, saudavam a mesma bandeira, viram- se repentinamente em lados
opostos. Era a fugaz, embora traumática, vitória da intolerância e do radicalismo,
incentivando ações violentas e erigindo falácias com base em
meias-verdades".
Os primeiros levantes ocorreram em
Natal e Recife, com cenas de violência que levaram o Governo Federal a declarar
o estado de sítio e a adotar medidas de exceção para restabelecer a ordem. A
desconfiança e a apreensão dominaram o País, angustiado pela hipótese de irrupção
de outros focos de rebelião, sem que se pudesse prever onde e quando surgiriam.
Na madrugada
de 27 de novembro de 1935, alguns sediciosos sublevaram-se no Rio de Janeiro, na
Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos e no 3º Regimento de Infantaria, na Praia
Vermelha, onde vários militares foram mortos por seus próprios companheiros.
Relembrar o fato, colocá-lo numa forma
cronológica, torna-se necessário para que compreendamos a importância do seu
significado e a perpetuação da sua memória.
Refletindo a guerra ideológica, durante
a década de 1930, no continente europeu, na qual fascistas e comunistas configuravam-se
em atores principais, o Brasil viveu, paralelamente, um período muito confuso
face aos embates constantes entre essas duas correntes, compondo um cenário
político eivado de extremismos e ódios incontroláveis.
Com o final da chamada "República
Velha", em 1930, os "tenentes" remanescentes das hostes da
"Coluna Miguel Costa-Prestes", participantes do movimento que levou
Getúlio Vargas ao poder, não contavam mais nos seus quadros com o capitão do
Exército, da arma de engenharia, Luiz Carlos Prestes que, após iniciar processo
de comunização, decidiu como caminho abandonar o País e seguir para a antiga União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas, especificamente Moscou, complementar seu
aprendizado e sua total conversão ao ideário marxista-leninista.
Prestes viveu na Rússia de 1931 a
1934 e não foi aceito, de imediato, como membro do Partido Comunista da União Soviética.
Entretanto, em outubro de 1934 o 7º Congresso Internacional Comunista resolveu
que era chegado o momento de desencadear uma revolução armada, no Brasil, sob a
liderança de Prestes.
"Para a preparação do
movimento, além de Prestes, foram designados o alemão Artur Ernest Ewert ou Harry
Berger, ex-deputado comunista ao Parlamento Alemão e membro da III Internacional,
sua esposa Elise Saborowski, Johann de Graaf, o ucraniano Pavel Stuchevski, o americano
Victor Baron, além do secretário-geral do Partido Comunista Argentino, Rodolpho
Ghioldi. Esses enviados de Moscou, só agiriam na clandestinidade, deixando para
Prestes a ação ostensiva".
"No fim de dezembro de 1934,
usando passaportes falsos, ele partiu de Moscou para o Brasil em companhia de
Olga Benário, ou Frida Leuschner, ou Ana Baum de Revidor, ou Olga Sinek, ou Olga
Bergner Vilar, ou Olga Zarcovich, judia alemã comunista, membro do IV
Departamento do Exército Vermelho, Inteligência Externa, casada na antiga União
Soviética com B. P. Nikitin, encarregada da segurança de Prestes, e que acabou
por tornar-se sua amante".
Como esquema nacional de agitação,
o Partido Comunista Brasileiro (PCB) decretou que em São Paulo se pregasse o
separatismo, assim como no Rio Grande do Sul, enquanto que no Rio de Janeiro se
mobilizassem opiniões contra os "separatismos" paulista e gaúcho, e
no Norte e Nordeste, o ódio contra os "privilégios reconhecidos ao
Sul", esse fato é recorrente.
Luiz Carlos Prestes, presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL) desde março de 1935,
preocupado com a vigilância exercida pela polícia e premido pelo Komintern, que
lhe exigia ação, deu a palavra de ordem da revolução, a ser deflagrada em vários
pontos do território nacional, escolhendo o mês de novembro para a eclosão da
revolta.
O Exército vigiava a atividade comunista
em suas fileiras. No debate público acerca das relações com a União Soviética, o
Correio da Manhã declarou que "elas só seriam prejudiciais a nossa segurança
interna", o Jornal do Brasil ressaltou que os comunistas estavam se alastrando
pelo país e o Estado de São Paulo alertou: "Se não nos protegermos contra
esse perigo, estaremos perdidos". " Era hora de o governo ganhar garras",
aconselhou o Diário Carioca. No meio do ano o clima político encontrava-se
extremamente tenso. Em decreto de 11 de julho foi fechada a ANL.
“A Intentona, preparada metodicamente
por mais de um ano, tinha amadurecido e, por isso tornou-se inevitável ante o vulto
atingido. O clima que se vivia dentro dos quartéis, principalmente na Vila
Militar, em Deodoro, era irrespirável. Havia já um cansaço geral nos oficiais e
na tropa, que não dormiam bem, pois a vigília era de 24 horas.”
“A infiltração da ideologia comunista
na guarnição da capital do Rio Grande do Norte praticamente se restringiu aos graduados
e soldados. Precipitada, a revolta eclodiu num sábado, 23 de novembro, no interior
do 21º Batalhão de Caçadores. Sargentos renderam o oficial-de-dia. Logo a
seguir um bando de homens, pertencentes à Guarda-civil adentrou ao
aquartelamento.”
“Toda a oficialidade foi presa sem
resistência, tendo, depois, os rebeldes se espalhado pelos bairros de Natal, paralisando
o tráfego e tiroteando os pedestres que regressavam a seus lares. Após a
rendição da polícia, que teve seu quartel crivado de tiros, os rebelados dominaram
por completo a cidade. Quase todas as repartições públicas estaduais, o Banco
do Brasil, o Banco do Rio Grande do Norte e a Delegacia Fiscal e Recebedoria de
Rendas foram arrombadas e saqueadas”.
“Na manhã de 24 de novembro, sob a
alegação de ter sido aclamado pelo povo, um incipiente 'comitê popular revolucionário'
era dado como governo instituído. Cenas de autêntica irresponsabilidade ocorreram
naquelas malfadadas horas em que Natal se viu nas mãos do tal comitê”.
No dia 26, após tomarem
conhecimento da reação imediata do governo federal, com tropas oriundas do 20º
Batalhão de Caçadores, de Alagoas e da Polícia Militar da Paraíba, militares e
civis rebeldes abandonaram a cidade de Natal. A tropa federal capturou em pouco
tempo todos os implicados no movimento e o saldo foi de vinte mortos.
"Na capital pernambucana a doutrinação
sorrateira dos adeptos do comunismo visou à conquista dos graduados, dos soldados
e de alguns oficiais. Ao alvorecer do dia 24 de novembro insurgiram-se contra o
comando do 29º Batalhão de Caçadores. O Tenente Lamartine, auxiliado pelo
capitão Otacílio Cavalcante, apoderou-se de todo material bélico.”
Na tentativa de debelar os
amotinados a resistência foi realizada, pelo comandante, Coronel Olinto de Freitas,
que, com alguns oficiais, se entrincheirou no pavilhão da administração e
liderou a reação. Subjugado o 29º BC, procuraram os revoltosos distribuir suas
forças, ocupando o Largo da Paz, o bairro da Torre e as cidades de Muribeca e
Jaboatão".
Em virtude das funções que
exerciam encontravam-se fora da cidade o governador do estado Carlos de Lima Cavalcanti,
o cmt da 7ª Região Militar general Manuel Rabelo e o da Brigada Militar Jurandir
Bizarria Mamede. A reação inicial partiu do secretário de segurança Capitão
Malvino Reis, que mandou armar a guarda civil, elementos da Brigada Militar e
apoiado por oficiais legalistas conseguiu iniciar o cerco aos revoltosos.
Durante toda
a noite de Domingo, 25, parte dos amotinados tentou furar o cerco sem sucesso. Na
manhã de segunda-feira ao tomaram conhecimento de que os 20º e 22º Batalhões de
Caçadores, respectivamente de Alagoas e da Paraíba e a Bateria Independente de Dorso,
também paraibana, seriam empregados para debelar o levante alguns rebeldes
conseguiram se evadir para o interior do estado. A normalidade legal retornou às
mãos das autoridades e as lideranças rebeldes foram aprisionadas.
Em Olinda, o sargento Gregório Bezerra,
comunista declarado, liderando um grupo de civis invadiu as Instalações do CPOR,
tomou o armamento, feriu um tenente e executou outro. O tenente Agnaldo
Oliveira, mesmo ferido, auxiliado pelo sargento Vieira conseguiu subjugar o
sargento Gregório e depois de feri-lo, deu-lhe voz de prisão. Uma ambulância
levou Gregório para o Hospital Militar. O capitão José Lima, à frente de 50
homens, normalizou a situação em Olinda.
Dos três levantes regionais
comunistas de 1935, o de Pernambuco foi o mais sangrento, recolhendo-se 720
mortos em Recife e Olinda.
Em 1987 a
Ordem do Dia de 27 de novembro, chancelada pelos três ministros militares,
retratou assim os acontecimentos no Nordeste brasileiro: " Em Natal, os revoltosos do 21º Batalhão de
Caçadores foram inicialmente enfrentados por seu comandante, com o apoio da tropa
do Batalhão de Polícia, e pela força de sertanejos. Em recife, as tentativas
ocorridas no 29º Batalhão de Caçadores e no Quartel-General da 7ª Região Militar
foram francamente confrontadas por elementos do próprio Batalhão, pela Brigada
Policial, pela Guarda Civil e por voluntários. Nesses locais, comandantes e
comandados, líderes e liderados, oficiais e soldados empenharam suas vidas na defesa
da liberdade, honrando com sangue o juramento que tinham prestado à Pátria.
Graças as suas desassombradas atitudes, o ímpeto inicial da Intentona, de
surpreendente ódio, foi sustado e, concedido tempo para o reposicionamento das
tropas governamentais, o movimento foi debelado".
Como resposta aos acontecimentos
verificados em Natal e Recife, em 26 de novembro, O presidente Getúlio Vargas, dirigiu-se
ao Congresso, e solicitou o estabelecimento do 'Estado de Sítio' para todo o País: A
insurreição que acaba de irromper, afirmo-o ao Poder legislativo, diante da
segurança dos elementos colhidos nas investigações, tem outra finalidade, pois que
tenta, por processos violentos, subverter não somente a ordem política, senão também
a ordem social, mudando a forma de governo estabelecida pela Constituição e a
sua ideologia política, social e econômica. Tem, por isso mesmo, articulações
em outros pontos do território nacional.
Na madrugada do dia seguinte, insurgia-se,
no Distrito Federal, parte das guarnições do 3º Regimento de Infantaria, na Praia
Vermelha, e da Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos". A ordem-do-dia de
1990 descreveu aquele momento [... Na madrugada
do dia 27 de novembro de
1935, alguns sediciosos sublevaram-se no Rio de Janeiro, na Escola de
Aviação, no Campo dos Afonsos e no 3º Regimento de Infantaria, na Praia
Vermelha, onde vários militares foram mortos por seus próprios companheiros.].
A cidade do Rio de Janeiro, por
ser, naquela época, o centro político do País e concentrar o maior contingente militar,
naturalmente se revestiu no alvo principal dos comunistas da ANL, liderados por
Prestes. A disseminação das ideias marxistas entre a oficialidade era feita por
militares já comprometidos com o movimento sedicioso. No 3º RI, a liderança foi
exercida pelo capitão Agildo da Gama Barata Ribeiro, que havia participado da Revolução
de 1930, posteriormente tornou-se adversário político de Vargas, combatendo ao lado
dos constitucionalistas paulistas em 32. Foi exilado para Portugal, retornando em
1934 após a anistia geral decretada pela Assembleia Constituinte.
Reingressou no Exército Brasileiro
por ordem do Partido Comunista. Servindo no 8º Batalhão de Caçadores em Santo
Ângelo, no Rio Grande do Sul, foi punido com 25 dias de prisão por desenvolver intensa
atividade política. Transferido para o Rio de Janeiro, veio cumprir a punição
na capital federal, no 3º RI. No Regimento articulou a revolta juntamente com o
Tenente Francisco Antônio Leivas Otero, chefe da célula local do PC e da ANL. A
célula comunista já havia elaborado um plano de sublevação que foi posto em
execução na madrugada de 27 de novembro.
Diante dos acontecimentos
verificados no Nordeste do País, no dia 26 foi redobrada a prontidão no
Regimento.
Talvez tenha sido no 3º RI que a doutrinação
tivesse atingido em profundidade não só oficiais como mesmo a graduados. Mais
de uma dezena de oficiais formavam a equipe principal dos liderados de Agildo
Barata.
Naquela madrugada,
o pelotão de Leivas Otero iniciou o levante encurralando oficiais e praças legalistas
nos alojamentos respectivos. Não contavam, porém, os sediciosos, com a resistência
das companhias de metralhadoras do 1º e do 2º Batalhões, comandadas pelos capitães
Bittencourt e Álvaro Braga. A primeira vítima, o major Misael de Mendonça, foi
atingido por uma rajada de metralhadora, no pátio do Regimento. A ideia dos
rebeldes era dominar o Regimento e marchar em direção ao Palácio do Catete para
destituir Vargas.
O comandante
do Regimento, Coronel Afonso, e mais alguns oficiais haviam se refugiados na
cúpula central do pavilhão principal.
Enquanto isso, do outro lado do
Distrito Federal, levantou-se parte da guarnição da Escola de Aviação Militar, sediada
no Campo dos Afonsos, chefiada pelos capitães Agliberto Vieira de Azevedo e
Sócrates Gonçalves da Silva”. Esses dois revoltosos renderam oficiais instrutores
e alunos da Escola. Foram assassinados dentro do carro do capitão Sócrates e no
alojamento de alunos o tenente Benedito Lopes Bragança, que estava desarmado, o
capitão Armando de Souza Melo e o tenente Danilo Paladini, ainda dormindo,
segundo o Inquérito Policial.
A reação contra os rebeldes foi comandada
pelo Tenente Coronel Eduardo Gomes, comandante do 1º Regimento de Aviação. A rendição
e prisão dos sediciosos ocorreram com a chegada de tropas da Vila Militar,
comandadas pelo General José Joaquim de Andrade.
Na Praia Vermelha, as forças do
governo bombardeavam o quartel do 3º RI. O Batalhão de Guardas, o 2º Regimento
de Infantaria, as guarnições do Forte do Vigia, da Fortaleza de São João e o 1º
Grupo de Obuses 155mm, compunham a força atacante. A resistência dos rebeldes
tornou-se ineficaz, às 12:15 horas foi hasteada a bandeira branca. O levante fez
19 mortos e 167 feridos, entre os 1700 sublevados, durante as doze horas de
duração. Na Ordem do Dia de 1981, o Ministro do Exército General Walter Pires
de Carvalho e Albuquerque relembra: No 3º Regimento de Infantaria, na época situado
na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, as subunidades ficaram horas retidas em seus
alojamentos, umas fazendo fogo sobre as outras. Muitos foram os que pereceram
no combate. Na escola de Aviação, também no Rio de Janeiro, diversos militares
foram assassinados a sangue frio na madrugada de 27 de novembro de 1935. O país
ficou estarrecido. Na escuridão daquela noite, ninguém confiava mais no amigo da
véspera. Ninguém sabia de que lado viria o golpe.
Todos os prisioneiros foram
conduzidos para a Ilha das Flores e seus chefes para o Navio Pedro I,
transformado em barco presídio.
Os mortos da Intentona foram velados
no Clube Militar e de lá conduzidos em cortejo fúnebre para o cemitério de São João
Batista. O presidente Vargas foi um dos que carregou o caixão do Major Misael de
Mendonça. Encerrada a rebelião Prestes foi preso e julgado posteriormente”.
“A data de hoje recorda à Nação a trágica jornada vivida em novembro de 1935.
Obcecados pelo poder a qualquer custo, fanáticos comandados pela matriz internacional
da subversão tentaram implantar um regime totalitário, de inspiração marxista-leninista.
O povo brasileiro, atônito e chocado, viu-se pela vez primeira ante a verdadeira
face do comunismo liberticida e materialista”.
“É isso que há de rememorar-se,
cada ano, para advertência das novas gerações. Não se enfatiza a vitória, mas,
tristemente, lembra-se o que fere a sensibilidade do profissional militar,
sempre e até hoje.
Eis porque desejamos que os civis e o
País admitam e absorvam a versão correta de um trágico fato que enodoa nossa
história.”
Gerações de militares estiveram
vigilantes para que o comunismo não conquistasse o poder no Brasil. Muitos deles
o combateram de armas na mão, e não poucos nesse combate morreram; em 1935,
contra a Intentona, e nos anos 60/70, contra o terrorismo e a guerrilha,
inspirados em regimes que praticaram e praticam atrocidades contra seu próprio
povo. Estamos relembrando esse fato para não esquecer, para não permitir que
esqueçam e para não permitir que ocorra novamente. Convém sempre lembrar disso.
Hoje, num mundo em grandes transformações,
no qual, a velocidade das informações nos coloca como espectadores em tempo real
dos acontecimentos, estamos permitindo que uma elite ignorante e corrompida,
aliada a uma imprensa abjeta, paute a vida de todos os brasileiros. Quando
verificamos que até mesmo um dos poderes republicanos, o judiciário,
repetidamente ignore a Constituição Federal, e transforme vítimas em culpados,
ficamos estarrecidos com o crescimento do ódio de determinados grupos que buscam
única e exclusivamente fomentar o confronto e a violência desmedida.
Cabe lembrar
que, se antes o comunismo clássico nos atormentou, hoje a guerra cultural, idealizada
por Gramsci, bate as nossas portas diariamente, calcada na desestruturação da
família. Outros atores externos e não mais a antiga União Soviética tentam, de todas
as maneiras, destruir nossa sociedade.
O próprio EB não conhece ou não
busca conhecer esse tipo de conflito. Culturalmente está sendo derrotado por
não realizar a leitura correta desse novo cenário ideológico. As autoridades militares
que possuem o poder institucional de zelar para que isso não aconteça, devem se
preocupar mais com o “Braço Forte” do que com “A Mão Amiga”. Devem, por dever
moral, saírem de suas bolhas estamentais, deixar de lado a idiossincrasia da
sua casta e atuarem como verdadeiros patriotas. Esperemos que não seja muito
tarde!
Cabe nesse momento, de grande reflexão,
sobre os acontecimentos passados naquele 27 de novembro, entendermos corretamente
a missão constitucional da Força Terrestre, como também compreendermos, mais do
que nunca, nossa responsabilidade de estarmos atentos: “O Preço da Liberdade é a eterna vigilância”.
[i] Eduardo Henrique de Souza Martins
Alves é Bacharel Licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense e Especialista
em História Militar Brasileira pela UNIRIO. É também Coronel QEMA Reformado do
EB, Bacharel, Mestre e Doutor em Ciências Militares. Na reserva foi instrutor,
como PTTC, da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), entre 2004 e
2007, e da Escola de Comando e Estado Maior
do Exército (ECEME), de 2008 a 2017. Foi ainda colaborador ativo do primeiro
Livro Branco de Defesa do Brasil.