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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A COVARDIA DO SILÊNCIO

 

A COVARDIA DO SILÊNCIO

 

Cel QEMA Eduardo Henrique de Souza Martins Alves[i]

  

Em 27 de novembro agora terão passados 85 anos de um fato histórico, dos mais significativos   para o Exército Brasileiro (EB): A INTENTONA COMUNISTA DE 1935.

Procurando uma referência desse acontecimento, no site oficial do EB, não encontramos qualquer alusão sobre o fato, nem mesmo uma citação cronológica.

Não há explicação plausível e razoável para àqueles que deveriam preservar nossa história estejam sendo negligentes. Fatos como esse, como também a Contra Revolução de março de 1964, foram varridos para debaixo do “tapete institucional”.

Desde o início dos governos de ideologia comunista, no Brasil, particularmente na primeira década deste século, a subserviência covarde aos extremistas de esquerda tem demonstrado um posicionamento inequivocamente medroso, vil e perverso para com as novas gerações, que precisam de exemplos morais, patrióticos que exaltem os feitos da Força Terrestre.

É esse conjunto cronológico de uma historiografia militar que irá dar o caminho, a bússola moral para nossos jovens militares.  Negar deliberadamente a eles esse conhecimento é permitir que o nefasto “patrulhamento ideológico” permeie novamente o seio da Instituição Exército Brasileiro, o que já está ocorrendo!

Resolvemos então escrever algumas linhas sobre o fato. Primeiro porque somos de uma geração de homens comprometidos com o Brasil, que protegem a família e que nunca se importaram com o “narcisismo profissional” que existe no dito estamento superior do EB.

Em segundo lugar nossa Turma de Formação denomina-se “31 DE MARÇO”, designação escolhida por todos os aspirantes de 1976, da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).

E, também, porque, no auge da nossa carreira, fomos nomeados para comandar o 3º Batalhão de Infantaria (3º BI), Regimento Ararigbóia, em São Gonçalo, RJ, oriundo do 3º Regimento de Infantaria (3ºRI), sediado na Praia Vermelha, palco dos lamentáveis acontecimentos, no Rio de Janeiro.

A Unidade Militar foi prejudicada na sua história, em virtude da célula comunista, que nela se infiltrou, além de perpetrar o levante, executou de forma bárbara e traiçoeira companheiros de farda. Em 1935 o 3º RI foi extinto por rebeldia e sua sede transferida para a cidade de São Gonçalo, RJ, com outra denominação. No entanto, quatro anos após a Intentona, o próprio Presidente Getúlio Vargas entendendo que a Organização Militar (OM) não havia se revoltado, mas apenas parte dela, resolveu anular o ato e restituir a antiga denominação de 3º RI.

 

A INTENTONA COMUNISTA (27 DE NOVEMBRO DE 1935)

 

Recordemos então o fato histórico que até hoje enodoa profundamente o seio da nossa Força Terrestre. A covardia dos acontecimentos pretéritos, no longínquo 1935, deve nos causar vergonha e repulsa todas as vezes que dele lembrarmos.

Tempo e História são essenciais para a humanidade construir civilizações. Ninguém pode prescindir do passado. Mas olhar para trás exige entender os fatos pretéritos como oportunidade de preservar a memória e evoluir as ideias – forma eficaz de se enfrentar as imprecisas, difíceis e novas conjunturas" (Ordem do Dia de 27 de Novembro de 1999, publicada no NE 9.626).

             Hoje, mais uma vez, vamos reverenciar a memória daqueles que, há exatos 85 anos, foram os primeiros a tombar na luta contra a implantação de um regime comunista no Brasil. Não éramos sequer nascidos àquela época. O movimento sedicioso passou à História com o nome de "Intentona Comunista".

Nesse episódio de triste lembrança, militares, colocados a serviço de uma ideologia espúria, que o tempo revelaria inviável, não hesitaram em atentar contra a vida dos próprios companheiros de farda.

 

A Ordem do Dia de 27 de novembro de 1995, sessenta anos transcorridos dos nefastos acontecimentos, assim definiu aquele dia "A intriga e a deslealdade cruzaram os portões dos quartéis. Homens que envergavam o mesmo uniforme e que a cada manhã, saudavam a mesma bandeira, viram- se repentinamente em lados opostos. Era a fugaz, embora traumática, vitória da intolerância e do radicalismo, incentivando ações violentas e erigindo falácias com base em meias-verdades".

 

Os primeiros levantes ocorreram em Natal e Recife, com cenas de violência que levaram o Governo Federal a declarar o estado de sítio e a adotar medidas de exceção para restabelecer a ordem. A desconfiança e a apreensão dominaram o País, angustiado pela hipótese de irrupção de outros focos de rebelião, sem que se pudesse prever onde e quando surgiriam.

 

Na madrugada de 27 de novembro de 1935, alguns sediciosos sublevaram-se no Rio de Janeiro, na Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos e no 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, onde vários militares foram mortos por seus próprios companheiros.

 

Relembrar o fato, colocá-lo numa forma cronológica, torna-se necessário para que compreendamos a importância do seu significado e a perpetuação da sua memória.

 

Refletindo a guerra ideológica, durante a década de 1930, no continente europeu, na qual fascistas e comunistas configuravam-se em atores principais, o Brasil viveu, paralelamente, um período muito confuso face aos embates constantes entre essas duas correntes, compondo um cenário político eivado de extremismos e ódios incontroláveis.

 

Com o final da chamada "República Velha", em 1930, os "tenentes" remanescentes das hostes da "Coluna Miguel Costa-Prestes", participantes do movimento que levou Getúlio Vargas ao poder, não contavam mais nos seus quadros com o capitão do Exército, da arma de engenharia, Luiz Carlos Prestes que, após iniciar processo de comunização, decidiu como caminho abandonar o País e seguir para a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, especificamente Moscou, complementar seu aprendizado e sua total conversão ao ideário marxista-leninista.

 

Prestes viveu na Rússia de 1931 a 1934 e não foi aceito, de imediato, como membro do Partido Comunista da União Soviética. Entretanto, em outubro de 1934 o 7º Congresso Internacional Comunista resolveu que era chegado o momento de desencadear uma revolução armada, no Brasil, sob a liderança de Prestes.

 

"Para a preparação do movimento, além de Prestes, foram designados o alemão Artur Ernest Ewert ou Harry Berger, ex-deputado comunista ao Parlamento Alemão e membro da III Internacional, sua esposa Elise Saborowski, Johann de Graaf, o ucraniano Pavel Stuchevski, o americano Victor Baron, além do secretário-geral do Partido Comunista Argentino, Rodolpho Ghioldi. Esses enviados de Moscou, só agiriam na clandestinidade, deixando para Prestes a ação ostensiva".

 

"No fim de dezembro de 1934, usando passaportes falsos, ele partiu de Moscou para o Brasil em companhia de Olga Benário, ou Frida Leuschner, ou Ana Baum de Revidor, ou Olga Sinek, ou Olga Bergner Vilar, ou Olga Zarcovich, judia alemã comunista, membro do IV Departamento do Exército Vermelho, Inteligência Externa, casada na antiga União Soviética com B. P. Nikitin, encarregada da segurança de Prestes, e que acabou por tornar-se sua amante".

 

Como esquema nacional de agitação, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) decretou que em São Paulo se pregasse o separatismo, assim como no Rio Grande do Sul, enquanto que no Rio de Janeiro se mobilizassem opiniões contra os "separatismos" paulista e gaúcho, e no Norte e Nordeste, o ódio contra os "privilégios reconhecidos ao Sul", esse fato é recorrente.

 

Luiz  Carlos  Prestes,  presidente  de  honra  da  Aliança  Nacional Libertadora (ANL) desde março de 1935, preocupado com a vigilância exercida pela polícia e premido pelo Komintern, que lhe exigia ação, deu a palavra de ordem da revolução, a ser deflagrada em vários pontos do território nacional, escolhendo o mês de novembro para a eclosão da revolta.

 

O Exército vigiava a atividade comunista em suas fileiras. No debate público acerca das relações com a União Soviética, o Correio da Manhã declarou que "elas só seriam prejudiciais a nossa segurança interna", o Jornal do Brasil ressaltou que os comunistas estavam se alastrando pelo país e o Estado de São Paulo alertou: "Se não nos protegermos contra esse perigo, estaremos perdidos". " Era hora de o governo ganhar garras", aconselhou o Diário Carioca. No meio do ano o clima político encontrava-se extremamente tenso. Em decreto de 11 de julho foi fechada a ANL.

 

“A Intentona, preparada metodicamente por mais de um ano, tinha amadurecido e, por isso tornou-se inevitável ante o vulto atingido. O clima que se vivia dentro dos quartéis, principalmente na Vila Militar, em Deodoro, era irrespirável. Havia já um cansaço geral nos oficiais e na tropa, que não dormiam bem, pois a vigília era de 24 horas.”

 

“A infiltração da ideologia comunista na guarnição da capital do Rio Grande do Norte praticamente se restringiu aos graduados e soldados. Precipitada, a revolta eclodiu num sábado, 23 de novembro, no interior do 21º Batalhão de Caçadores. Sargentos renderam o oficial-de-dia. Logo a seguir um bando de homens, pertencentes à Guarda-civil adentrou ao aquartelamento.”

 

“Toda a oficialidade foi presa sem resistência, tendo, depois, os rebeldes se espalhado pelos bairros de Natal, paralisando o tráfego e tiroteando os pedestres que regressavam a seus lares. Após a rendição da polícia, que teve seu quartel crivado de tiros, os rebelados dominaram por completo a cidade. Quase todas as repartições públicas estaduais, o Banco do Brasil, o Banco do Rio Grande do Norte e a Delegacia Fiscal e Recebedoria de Rendas foram arrombadas e saqueadas”.

 

“Na manhã de 24 de novembro, sob a alegação de ter sido aclamado pelo povo, um incipiente 'comitê popular revolucionário' era dado como governo instituído. Cenas de autêntica irresponsabilidade ocorreram naquelas malfadadas horas em que Natal se viu nas mãos do tal comitê”.

 

No dia 26, após tomarem conhecimento da reação imediata do governo federal, com tropas oriundas do 20º Batalhão de Caçadores, de Alagoas e da Polícia Militar da Paraíba, militares e civis rebeldes abandonaram a cidade de Natal. A tropa federal capturou em pouco tempo todos os implicados no movimento e o saldo foi de vinte mortos.

 

"Na capital pernambucana a doutrinação sorrateira dos adeptos do comunismo visou à conquista dos graduados, dos soldados e de alguns oficiais. Ao alvorecer do dia 24 de novembro insurgiram-se contra o comando do 29º Batalhão de Caçadores. O Tenente Lamartine, auxiliado pelo capitão Otacílio Cavalcante, apoderou-se de todo material bélico.”

 

Na tentativa de debelar os amotinados a resistência foi realizada, pelo comandante, Coronel Olinto de Freitas, que, com alguns oficiais, se entrincheirou no pavilhão da administração e liderou a reação. Subjugado o 29º BC, procuraram os revoltosos distribuir suas forças, ocupando o Largo da Paz, o bairro da Torre e as cidades de Muribeca e Jaboatão".

 

Em virtude das funções que exerciam encontravam-se fora da cidade o governador do estado Carlos de Lima Cavalcanti, o cmt da 7ª Região Militar general Manuel Rabelo e o da Brigada Militar Jurandir Bizarria Mamede. A reação inicial partiu do secretário de segurança Capitão Malvino Reis, que mandou armar a guarda civil, elementos da Brigada Militar e apoiado por oficiais legalistas conseguiu iniciar o cerco aos revoltosos.

 

Durante toda a noite de Domingo, 25, parte dos amotinados tentou furar o cerco sem sucesso. Na manhã de segunda-feira ao tomaram conhecimento de que os 20º e 22º Batalhões de Caçadores, respectivamente de Alagoas e da Paraíba e a Bateria Independente de Dorso, também paraibana, seriam empregados para debelar o levante alguns rebeldes conseguiram se evadir para o interior do estado. A normalidade legal retornou às mãos das autoridades e as lideranças rebeldes foram aprisionadas.

 

Em Olinda, o sargento Gregório Bezerra, comunista declarado, liderando um grupo de civis invadiu as Instalações do CPOR, tomou o armamento, feriu um tenente e executou outro. O tenente Agnaldo Oliveira, mesmo ferido, auxiliado pelo sargento Vieira conseguiu subjugar o sargento Gregório e depois de feri-lo, deu-lhe voz de prisão. Uma ambulância levou Gregório para o Hospital Militar. O capitão José Lima, à frente de 50 homens, normalizou a situação em Olinda.

 

Dos três levantes regionais comunistas de 1935, o de Pernambuco foi o mais sangrento, recolhendo-se 720 mortos em Recife e Olinda.

 

Em 1987 a Ordem do Dia de 27 de novembro, chancelada pelos três ministros militares, retratou assim os acontecimentos no Nordeste brasileiro: " Em Natal, os revoltosos do 21º Batalhão de Caçadores foram inicialmente enfrentados por seu comandante, com o apoio da tropa do Batalhão de Polícia, e pela força de sertanejos. Em recife, as tentativas ocorridas no 29º Batalhão de Caçadores e no Quartel-General da 7ª Região Militar foram francamente confrontadas por elementos do próprio Batalhão, pela Brigada Policial, pela Guarda Civil e por voluntários. Nesses locais, comandantes e comandados, líderes e liderados, oficiais e soldados empenharam suas vidas na defesa da liberdade, honrando com sangue o juramento que tinham prestado à Pátria. Graças as suas desassombradas atitudes, o ímpeto inicial da Intentona, de surpreendente ódio, foi sustado e, concedido tempo para o reposicionamento das tropas governamentais, o movimento foi debelado".

 

Como resposta aos acontecimentos verificados em Natal e Recife, em 26 de novembro, O presidente Getúlio Vargas, dirigiu-se ao Congresso, e solicitou  o  estabelecimento  do  'Estado  de  Sítio'  para  todo  o  País:  A insurreição que acaba de irromper, afirmo-o ao Poder legislativo, diante da segurança dos elementos colhidos nas investigações, tem outra finalidade, pois que tenta, por processos violentos, subverter não somente a ordem política, senão também a ordem social, mudando a forma de governo estabelecida pela Constituição e a sua ideologia política, social e econômica. Tem, por isso mesmo, articulações em outros pontos do território nacional.

 

Na madrugada do dia seguinte, insurgia-se, no Distrito Federal, parte das guarnições do 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, e da Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos". A ordem-do-dia de 1990 descreveu aquele momento [... Na madrugada do dia 27 de novembro de

1935, alguns sediciosos sublevaram-se no Rio de Janeiro, na Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos e no 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, onde vários militares foram mortos por seus próprios companheiros.].

 

A cidade do Rio de Janeiro, por ser, naquela época, o centro político do País e concentrar o maior contingente militar, naturalmente se revestiu no alvo principal dos comunistas da ANL, liderados por Prestes. A disseminação das ideias marxistas entre a oficialidade era feita por militares já comprometidos com o movimento sedicioso. No 3º RI, a liderança foi exercida pelo capitão Agildo da Gama Barata Ribeiro, que havia participado da Revolução de 1930, posteriormente tornou-se adversário político de Vargas, combatendo ao lado dos constitucionalistas paulistas em 32. Foi exilado para Portugal, retornando em 1934 após a anistia geral decretada pela Assembleia Constituinte.

 

Reingressou no Exército Brasileiro por ordem do Partido Comunista. Servindo no 8º Batalhão de Caçadores em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, foi punido com 25 dias de prisão por desenvolver intensa atividade política. Transferido para o Rio de Janeiro, veio cumprir a punição na capital federal, no 3º RI. No Regimento articulou a revolta juntamente com o Tenente Francisco Antônio Leivas Otero, chefe da célula local do PC e da ANL. A célula comunista já havia elaborado um plano de sublevação que foi posto em execução na madrugada de 27 de novembro.

 

Diante dos acontecimentos verificados no Nordeste do País, no dia 26 foi redobrada a prontidão no Regimento.

 

Talvez tenha sido no 3º RI que a doutrinação tivesse atingido em profundidade não só oficiais como mesmo a graduados. Mais de uma dezena de oficiais formavam a equipe principal dos liderados de Agildo Barata.

 

Naquela madrugada, o pelotão de Leivas Otero iniciou o levante encurralando oficiais e praças legalistas nos alojamentos respectivos. Não contavam, porém, os sediciosos, com a resistência das companhias de metralhadoras do 1º e do 2º Batalhões, comandadas pelos capitães Bittencourt e Álvaro Braga. A primeira vítima, o major Misael de Mendonça, foi atingido por uma rajada de metralhadora, no pátio do Regimento. A ideia dos rebeldes era dominar o Regimento e marchar em direção ao Palácio do Catete para destituir Vargas.

 

O comandante do Regimento, Coronel Afonso, e mais alguns oficiais haviam se refugiados na cúpula central do pavilhão principal.

 

Enquanto isso, do outro lado do Distrito Federal, levantou-se parte da guarnição da Escola de Aviação Militar, sediada no Campo dos Afonsos, chefiada pelos capitães Agliberto Vieira de Azevedo e Sócrates Gonçalves da Silva”. Esses dois revoltosos renderam oficiais instrutores e alunos da Escola. Foram assassinados dentro do carro do capitão Sócrates e no alojamento de alunos o tenente Benedito Lopes Bragança, que estava desarmado, o capitão Armando de Souza Melo e o tenente Danilo Paladini, ainda dormindo, segundo o Inquérito Policial.

 

A reação contra os rebeldes foi comandada pelo Tenente Coronel Eduardo Gomes, comandante do 1º Regimento de Aviação. A rendição e prisão dos sediciosos ocorreram com a chegada de tropas da Vila Militar, comandadas pelo General José Joaquim de Andrade.

 

Na Praia Vermelha, as forças do governo bombardeavam o quartel do 3º RI. O Batalhão de Guardas, o 2º Regimento de Infantaria, as guarnições do Forte do Vigia, da Fortaleza de São João e o 1º Grupo de Obuses 155mm, compunham a força atacante. A resistência dos rebeldes tornou-se ineficaz, às 12:15 horas foi hasteada a bandeira branca. O levante fez 19 mortos e 167 feridos, entre os 1700 sublevados, durante as doze horas de duração. Na Ordem do Dia de 1981, o Ministro do Exército General Walter Pires de Carvalho e Albuquerque relembra: No 3º Regimento de Infantaria, na época situado na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, as subunidades ficaram horas retidas em seus alojamentos, umas fazendo fogo sobre as outras. Muitos foram os que pereceram no combate. Na escola de Aviação, também no Rio de Janeiro, diversos militares foram assassinados a sangue frio na madrugada de 27 de novembro de 1935. O país ficou estarrecido. Na escuridão daquela noite, ninguém confiava mais no amigo da véspera. Ninguém sabia de que lado viria o golpe.


Todos os prisioneiros foram conduzidos para a Ilha das Flores e seus chefes para o Navio Pedro I, transformado em barco presídio.

 

Os mortos da Intentona foram velados no Clube Militar e de lá conduzidos em cortejo fúnebre para o cemitério de São João Batista. O presidente Vargas foi um dos que carregou o caixão do Major Misael de Mendonça. Encerrada a rebelião Prestes foi preso e julgado posteriormente”.

 

“A data de hoje recorda à Nação a trágica jornada vivida em novembro de 1935. Obcecados pelo poder a qualquer custo, fanáticos comandados pela matriz internacional da subversão tentaram implantar um regime totalitário, de inspiração marxista-leninista. O povo brasileiro, atônito e chocado, viu-se pela vez primeira ante a verdadeira face do comunismo liberticida e materialista”.

 

“É isso que há de rememorar-se, cada ano, para advertência das novas gerações. Não se enfatiza a vitória, mas, tristemente, lembra-se o que fere a sensibilidade do profissional militar, sempre e até hoje.

 

Eis porque desejamos que os civis e o País admitam e absorvam a versão correta de um trágico fato que enodoa nossa história.”

 

Gerações de militares estiveram vigilantes para que o comunismo não conquistasse o poder no Brasil. Muitos deles o combateram de armas na mão, e não poucos nesse combate morreram; em 1935, contra a Intentona, e nos anos 60/70, contra o terrorismo e a guerrilha, inspirados em regimes que praticaram e praticam atrocidades contra seu próprio povo. Estamos relembrando esse fato para não esquecer, para não permitir que esqueçam e para não permitir que ocorra novamente. Convém sempre lembrar disso.

 

Hoje, num mundo em grandes transformações, no qual, a velocidade das informações nos coloca como espectadores em tempo real dos acontecimentos, estamos permitindo que uma elite ignorante e corrompida, aliada a uma imprensa abjeta, paute a vida de todos os brasileiros. Quando verificamos que até mesmo um dos poderes republicanos, o judiciário, repetidamente ignore a Constituição Federal, e transforme vítimas em culpados, ficamos estarrecidos com o crescimento do ódio de determinados grupos que buscam única e exclusivamente fomentar o confronto e a violência desmedida.

 

Cabe lembrar que, se antes o comunismo clássico nos atormentou, hoje a guerra cultural, idealizada por Gramsci, bate as nossas portas diariamente, calcada na desestruturação da família. Outros atores externos e não mais a antiga União Soviética tentam, de todas as maneiras, destruir nossa sociedade.

 

O próprio EB não conhece ou não busca conhecer esse tipo de conflito. Culturalmente está sendo derrotado por não realizar a leitura correta desse novo cenário ideológico. As autoridades militares que possuem o poder institucional de zelar para que isso não aconteça, devem se preocupar mais com o “Braço Forte” do que com “A Mão Amiga”. Devem, por dever moral, saírem de suas bolhas estamentais, deixar de lado a idiossincrasia da sua casta e atuarem como verdadeiros patriotas. Esperemos que não seja muito tarde!

 

Cabe nesse momento, de grande reflexão, sobre os acontecimentos passados naquele 27 de novembro, entendermos corretamente a missão constitucional da Força Terrestre, como também compreendermos, mais do que nunca, nossa responsabilidade de estarmos atentos: “O Preço da Liberdade é a eterna vigilância”.



[i] Eduardo Henrique de Souza Martins Alves é Bacharel Licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense e Especialista em História Militar Brasileira pela UNIRIO. É também Coronel QEMA Reformado do EB, Bacharel, Mestre e Doutor em Ciências Militares. Na reserva foi instrutor, como PTTC, da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), entre 2004 e

2007, e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), de 2008 a 2017. Foi ainda colaborador ativo do primeiro Livro Branco de Defesa do Brasil.

Como as ideias escravizam os desavisados

 

Como as ideias escravizam os desavisados

Prof. Dr. João Carlos Rodrigues da Silva[1]

 

            Ideias nos escravizam sem que saibamos como nem porque, afirma o filósofo. E é verdade. Constata-se isso nas redes sociais. Milhares de internautas (pessoas) curtem, elogiam e compartilham ideias de outros internautas (também pessoas), talvez sem se darem conta de que na atualidade estão replicando o castigo da ninfa Eco: condenados a repetir o que os outros dizem. Mas como e por quê? Ora, se as pessoas repetem ideias de outra(s), isso se deve ao fenômeno social da propagação ideológica. Brevemente, define-se ideologia, de acordo com Terry Eagleton (1997), como o processo de produção de significados, signos e valores na vida social, que se materializa através de um corpo de ideias característico de um determinado grupo ou partido, a fim de ajudar a legitimar e sustentar um poder (político) dominante. A massificação de uma ideologia acontece por intermédio das seguintes estratégias: legitimação, dissimulação, unificação, fragmentação e reificação (THOMPSON, 2002).

 

            A legitimação consiste na tentativa de apresentar o discurso como legítimo, justo, por isso digno de apoio. Assim, o produtor do discurso constrói uma cadeia de raciocínio para defender e justificar sua ideias ou instituições e, com isso, persuadir a audiência. Também ele, através da narrativização, dissemina histórias contadas ou revisadas (ressignificadas) para sedimentar suas próprias ideias. Servem para tal fim um filme (Ex.: Lamarca), um documentário, uma peça de teatro, livros paradidáticos, a simples mudança do nome de um local público (Ex. Troca-se Rua Gen Médici por Rua Cuba), etc. A dissimulação constitui a tentativa de ocultar, negar e obscurecer as verdadeiras ideias ou causas. Para isso, usa-se o deslocamento de termos do vocabulário (Ex. linguagem politicamente correta), eufemismos, metáforas e adjetivações (Ex.: golpista, capitalismo selvagem, imperialista). A unificação compreende a tentativa de se estabelecer uma unidade de pensamento, interligando indivíduos, numa identidade coletiva. Concretiza-se através da padronização do discurso, da criação de símbolos para o grupo (Ex. bandeiras, cores) e da repetição ad nauseam de bordões (Ex. Foi golpe! Fora Fulano!). A fragmentação é a ação voltada para o inimigo, o adversário – indivíduo ou grupo – de modo a enfraquecê-lo: dividir para conquistar. Materializa-se através da diferenciação, da divisão da sociedade em grupos antagônicos, ressaltando-lhes as diferenças (Ex. negros x brancos; hétero x homo; rico x pobre; público x privado, etc.). E também do expurgo do outro: escolhe-se ou inventa-se um inimigo, que é retratado como mau, perigoso e ameaçador, e deve ser destruído com acusações infundadas, mentiras, fofocas, fake news, charges satíricas, artigos, reportagens, etc. Por fim, temos a reificação (coisificação), que corresponde à tentativa de retratar uma situação transitória e histórica como se fosse permanente, natural e atemporal. Materializa-se através da naturalização de um estado de coisas, de uma situação antes inexistente, como normal (Ex. naturalização da poligamia, do poliamor, do incesto); através da eternalização de fenômenos como permanentes, imutáveis, e também através do apagamento ou indeterminação do agente nas estruturas gramaticais (Ex. O partido foi atacado / Eles não prestam).

 

            Com todas essas estratégias operando ao mesmo tempo e em várias instâncias sociais – igrejas, escolas públicas e particulares, universidades, rádios, jornais, revistas, órgãos governamentais, ONG e redes sociais – os intelectuais orgânicos de uma dada ideologia manipulam os desavisados, os quais reeditam o mito grego: repetem-lhe as ideias, como milhões de Ecos, proliferando aquilo que o partido/grupo deseja que seja a sua verdade.


[1] Professor do Centro Universitário Ateneu, Curso de Pedagogia. Graduado em Letras/Literatura e Mestre em Linguística, ambos pela UFC. Doutor em Linguística (Análise Crítica do Discurso), pela UnB. Possui ainda duas especializações: Descrição da Língua Portuguesa e Coordenação Pedagógica da Escola Básica, ambas pela UECE.

A LINGUAGEM POLITICAMENTE CORRETA

 

A LINGUAGEM POLITICAMENTE CORRETA

Prof. Dr. João Carlos Rodrigues da Silva[1]

           

Quem já ouviu (ou disse) a expressão: ‘Bom dia a todos e a todas’ ou já escreveu ‘deficiente visual’ no lugar de ‘cego’?  Esses dois casos ilustram a influência do uso do que se convencionou chamar de linguagem politicamente correta (PC). Trata-se de um conceito de origem controversa, mas de objetivo claro: implementar uma espécie de higiene verbal na comunicação, afastando termos que, na visão dos defensores dessa tese, veiculariam sentido negativo, preconceituoso, machista, sexista ou ofensivo a dado grupo, pessoa ou ato. A intenção é nobre, mas os efeitos dessa tese sobre o signo linguístico têm se tornado cada vez mais radicais e até deletérios.


A linguagem PC ancora-se na tese de que as palavras carregam significados construídos e constituídos historicamente na relações sociais e, por isso, refletem tudo que permeia tais relações: as diferenças, os conceitos, os preconceitos, as desigualdades, etc. Como se trata de uma higiene verbal, o PC foca somente aquilo que considera ruim no uso do signo linguístico. Assim, na esteira do movimento feminista, os advogados do PC argumentam que palavras do gênero gramatical masculino veiculam linguagem sexista, com domínio do homem, quando usadas com referência geral. Por exemplo, quem diz ‘Bom a dia a todos!’ está se referindo somente aos homens e excluindo as mulheres. Por isso, segundo eles, deve-se dizer ‘todos e todas’. O absurdo dessa imposição, aceita e repetida sem reflexão, é que o pronome todos é indefinido por natureza, é genérico, refere-se a todos os seres humanos. Ademais, o gênero gramatical não tem nada a ver com o biológico, com macho e fêmea, tanto é que ‘a vítima, a testemunha, a criatura, a pessoa’ são todos femininos gramaticais com referência generalizante (servem para macho e fêmea). Ora, se os defensores do PC fossem justos, deveriam exigir que se usasse ‘a vítima e o vítimo’, e assim por diante, afinal que justiça é essa que não equilibra as demandas?


O radicalismo que se constata na causa PC chega ao ponto de haver pesquisas de linguistas que utilizam o símbolo @ para substituir a desinência de gênero gramatical masculino e feminino. Tais pessoas escrevem, por exemplo, ‘Gostaria que @s alun@s escolhessem seus pares’. Outros escrevem ‘aluno/a’ e no decorrer do texto continuam usando tal recurso em todos os nomes que possam ser flexionados, mas se esquecem de que a leitura se tornará no mínimo enfadonha, pois o leitor terá de pronunciar a cada ocorrência o mesmo nome duas vezes (uma no masculino, outra no feminino). Novamente, ocorre a confusão entre gênero gramatical e sexo biológico. Outro viés da luta PC é a carga semântica negativa que alegam existir em termos como ‘cego’, ‘anão’, ‘mulato’, ‘preto’, etc, os quais são substituídos por uma expressão mais neutra. Dessa forma, incorporou-se ao vocabulário a predominância de ‘deficiente visual’ sobre ‘cego’, de ‘deficiente físico’ sobre ‘aleijado’. E a cada período surgem novas expressões que substituem outras, e ai de quem não as falar ou escrever, pois será objeto de censura.


Transformar-se numa censura. Esse é, enfim, o maior risco que o movimento PC corre. Corre-se o risco de haver o cerceamento da liberdade de expressão, inclusive com o linchamento público virtual nas mídias sociais. Sírio Possenti, por exemplo, escreve que “jornais informam que um romancista japonês anuncia que vai parar de escrever porque a proibição atinge cada vez mais palavras”. A higiene verbal, portanto, não garante o respeito de fato, porque o falante pode usar o vocabulário PC em público para preservar sua imagem, mas no íntimo e na intimidade não respeita de fato.



[1] Professor do Centro Universitário Ateneu, Curso de Pedagogia. Graduado em Letras/Literatura e Mestre em Linguística, ambos pela UFC. Doutor em Linguística (Análise Crítica do Discurso), pela UnB. Possui ainda duas especializações: Descrição da Língua Portuguesa e Coordenação Pedagógica da Escola Básica, ambas pela UECE.